Kanye West – Sunday Service

Este é um post especial e te explico a porquê.

Ano passado, pra ser mais exato, em novembro, dois amigos queridos me apresentaram este vídeo no YouTube do Pr. Adam Tyson falando sobre a experiência que estava vivendo em discipular Kanye West – que talvez seja mais conhecido no Brasil por ser marido da Kim Kardashian, socialite, uma das personalidades mais famosas e ricas do mundo, mas que também é um rapper premiadíssimo e muito influente.

Então, após obter a autorização do pessoal da Voddie Baucham Ministries para legendar, que são responsáveis pelo Wrath and Grace Radio (Rádio Ira e Graça), comecei a fazer as legendas com meu amigo Guilherme Santos, que também vai postar alguns textos aqui de vez em quando.

Nós começamos a legendar, mas aí tive um problema no site do YouTube e perdi mais de 20 minutos de trabalho (que na prática são… sei lá… uns 6 dias de trabalho). Decidi parar um pouco e então voltar esse ano para concluir o trabalho.

Olha, releve aí a formatação e algum eventual erro. O objetivo é levar conhecimento do que tem acontecido, que é algo bem relevante para nós cristãos, e unir forças ao pessoal que já está orando pelo desenvolvimento desse projeto e do discipulado do Kanye, sua família e equipe, confiando sempre que é o Senhor que executa e mantém.

Além do vídeo principal, o da entrevista, eu coloco aqui dois vídeos que são tratados na entrevista (1º o de Detroit / 2º o de Salt Lake City). Assista todos, se puder.

É isso! Grande abraço e comente aqui o que você achou.

 

Entrevista Pr. Adam Tyson - Wrath and Grace Radio

Salt Lake City - Sunday Service

Thomas Bradwardine e a Providência Divina

Thomas Bradwardine (1290–1349) foi um brilhante filósofo inglês, e posteriormente nomeado arcebispo da Cantuária. Bradwardine em sua obra chamada “De causa Dei contra Pelagium” nos ajuda, com todo o cuidado, na compreensão da providência divina:

“Era uma vez um eremita que pensava que os ímpios recebiam o bem e os justos recebiam o mal. Ele começou a duvidar da existência de um Deus bom. Ele abriu mão da vida solitária e vagou pelo mundo. Enquanto fazia isso, um anjo, na forma de homem, juntou-se a ele.

Primeiro, eles encontraram alguém que os recebeu com polidez e os tratou muito bem com acomodações.

Levantando-se à meia-noite, o anjo tomou um cálice de ouro do anfitrião e partiu com o eremita.

Em seguida, eles ficaram com alguém que também os tratou bem. Levantando-se à meia-noite com o eremita, o anjo foi até o berço e estrangulou o bebê.

Então, eles encontraram alguém que não os deixou ficar em sua casa, apenas fora dela. Pela manhã, o anjo bateu na porta e deu ao homem ímpio um cálice de ouro, que roubara do primeiro homem bom com quem havia ficado.

Por fim, foram até um homem que os tratou com muita gentileza. Quando o anjo e o eremita estavam prestes a partir, o anjo pediu ao anfitrião que enviasse seu servo com eles para lhes mostrar o caminho. Quando chegaram a uma ponte sobre águas turbulentas, o anjo jogou o servo no rio.

O eremita queria abandonar esse anjo aparentemente mau.

Mas, o anjo mandou o eremita esperar e ouvir como tudo aconteceu de acordo com a ordem justa de Deus: O anjo era um anjo de Deus para ensinar ao eremita que muitas coisas que pareciam injustas para os seres humanos eram muito boas.

O primeiro homem que encontraram, de quem ele tomou o cálice, saiu ganhando, pois, antes de possuir o cálice, ele temia a Deus. Mas, depois de conseguir o cálice, embebedava-se todos os dias com aquele cálice. Deus enviou o anjo para retirar esse incentivo à embriaguez a fim de que o homem fosse salvo.

Ao terceiro homem, a quem ele deu o cálice de ouro, isto é, o ímpio que não ofereceu a hospitalidade, o anjo causou muito dano a ele, mesmo que ele parecesse prosperar exteriormente. Esse homem se tornou um bêbado assim que tomou posse do cálice. Deus lhe deu o cálice como sinal de juízo, mesmo que ele tenha achado que prosperou.

Em relação ao homem cujo filho ele matou, ele era generoso com os pobres antes do nascimento do filho. No entanto, depois disso, não cuidava mais dos pobres nem se preocupava com eles. Deus ordenou que o anjo matasse a criança para que o homem não ameaçasse mais uma salvação eterna e voltasse à antiga vida de generosidade.

Em relação ao servo a quem o anjo jogou nas águas, ele estava prestes a assassinar seu gentil mestre e sua família, incluindo a esposa e filho, naquela noite. Contudo, o Senhor amava essa família e, assim, evitou o mal.

Então, o anjo disse: “Vá e pare de julgar a providência divina de maneira errada, porque você vê coisas más acontecendo com pessoas boas e coisas boas com pessoas más.”

 

Bradwardine por meio dessa história, não só nos dá um vislumbre a respeito da providência divina, como também, toca em um ponto nevrálgico e delicado da vida humana, o sofrer. Ele nos lembra de nosso Deus infinitamente bondoso, soberano sobre todas as coisas. Ele nos lembra que mesmo diante de tantas provações que afligem nossa alma, não podemos agir contra o nosso Senhor em seu infinito poder e misericórdia.

 

13. É Ele quem, dos seus altos patamares, rega as montanhas, e a terra se sacia do fruto de suas obras;
14. faz brotar a erva para o gado, as plantas que o homem cultiva, tirando da terra o alimento,
15. o vinho que alegra o coração, o óleo que dá brilho às faces e o pão que sustenta o vigor dos seres humanos.

SALMOS 104.13-15

Guilherme Santos


Notas:

Thomas Bradwardine, “De causa Dei contra Pelagium.”

William Pemble, “A Treatise of the Providence of God”

 

Publicado originalmente no dia 4 jan 2020 – https://medium.com/@guilhermesantossw1996/thomas-bradwardine-e-a-provid%C3%AAncia-divina-e01156d15a79

‘…mas até para morrer em Jerusalém’

De ontem pra hoje eu tive um sonho onde conversava com um conhecido que falou assim: ‘Olha, eu não volto mais. Decidi e não volto atrás. Abandonei a vida cristã porque a Bíblia não me é relevante. Ela não fala, nunca falou comigo. Vou seguir meu próprio caminho’.

Aí, como de costume, abri os meus olhos, beijei meus filhos, minha esposa abracei e fui assumir as responsabilidades do dia ao lado de um bom café com leite, mas o que foi me dito ali no imaginário do meu travesseiro continuou a atravessar os pensamentos. Assim, agora à noite, após chegar em Atos 21.13, durante minha leitura devocional do dia, tive de parar de ler para escrever.

A Palavra de Deus fala contigo? E se fala, como você tem reagido ao que ela te diz?

Tal como nos diz o Senhor na Parábola do Semeador, a Palavra de Deus chega a quatro tipos de ouvintes.

O primeiro grupo de indivíduos é aquele onde as pessoas ouvem e já de cara rejeitam a Verdade (Lc 8.12). Aqui, assim como nos dois grupos a seguir, estarão pessoas que nós temos muita afeição, mas não fazem parte dos eleitos. Isso nos trás tristeza? Sim, muita. Mas, olha, lembre-se sempre que quem é o salvador aqui é Cristo e não eu ou você.

Depois tem aquele grupo de pessoas que escutam a Palavra, fazem isso com alegria, mas porque não tem raiz, não foram eleitas para salvação, chegam a crer por algum tempo e na hora de um problema maior desistem (Lc 8.13). A igreja visível tem muitas pessoas deste grupo aqui.

O terceiro grupo eu diria que caberia o indivíduo que no SONHO, veja bem, no SONHO, ouviu a Palavra, provavelmente a vida inteira na igreja, mas ficou pelo caminho porque as riquezas do mundo, os prazeres desta vida, o sufocaram. De fato a Palavra nunca falou de maneira efetiva a essas pessoas aqui porque o Espírito Santo nunca habitou nelas.

E, finalmente, no quarto grupo temos pessoas como Paulo.

O que estão fazendo, ao chorar assim e partir o meu coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.

Atos 21.13

Quem é boa terra não apenas pertence ao grupo dos salvos, digo, não apenas retêm a Palavra ouvida, mas também dá fruto. Isso parece óbvio, mas para muitas pessoas não é.

Aqueles que fazem parte da igreja invisível são de tal forma dominados pelo amor de Cristo (2 Co 5.11-17) que não é suficiente apenas serem salvos, mas há o desejo de viver para seu salvador como forma de agradecimento e louvor (v.15).

Paulo, neste momento de sua vida, é aquele cara que olha para seus amigos e diz: Olha, parem de tentar me dissuadir a pregar o Evangelho. Se sou nova criatura eu quero mesmo é falar todos os dias que ainda viver desse grande e magnífico salvador. Se tiver de ser motivo de chacota, Ok. Se tiver de ser odiado pelos da minha própria casa, Ok. Se tiver de ser perseguido pela minha própria igreja, OK. Morte, Ok – ainda será infinitamente pouco diante do muito que Cristo fez por mim.

A Palavra falou tão forte com Paulo que ele diz que foi limpo pelo sangue do Cordeiro e é nova criatura (v. 17). Os adjetivos, bons ou ruins, que antes o qualificavam já não servem mais para o identificar, porque ele foi comunicado sobre Cristo e é dominado por seu amor.

Em 2 Co 5.11-17 o Apóstolo Paulo diz que aquele que está em Cristo, que ouve sua voz, que foi limpo por seu sangue, é nova criatura (v. 17). Os adjetivos que antes caracterizavam esta pessoa, bons ou ruins, já não servem mais para o identificar, porque agora ele/ela foi comunicado Cristo e essa pessoa agora é dominada pelo amor dEle (v. 14). Ele não vive mais para si mesmo, mas vive e morre por aquele que por ele morreu (v. 15).

Ano passado ouvi de um indivíduo dentro de uma igreja que essa ideia de morrer por Cristo foi apenas naquele contexto e que hoje, na nossa cultura, isso não seria mais necessário. Será?

Já pensou como seriam nossas casas se tanto pais, mães e filhos decidissem viver e morrer por Cristo ao se esforçarem o máximo para estarem fiéis a Escritura, não cedendo aos impulsos da carne, nem dos prazeres e riquezas que este mundo oferece?

Já pensou se cristãos não se vendessem as pressões políticas dentro de seus empregos, grupos sociais ou nas igrejas que frequentam para se manterem nas posições que ocupam? Já pensou o que seria desses cristãos se pensassem menos neles mesmos, na sua manutenção, e mais na totalidade do corpo, na igreja de Cristo não ser ridicularizada?

Já pensou o que seria das mulheres se os homens assumissem um compromisso sério de honrá-las como a Bíblia nos diz?

E quanto ao aborto? sexo antes do casamento? natalidade em decréscimo nos lares cristãos? busca incessante por estabilidade nos concursos públicos? Já pensou o que seria da nossa igreja aqui no Brasil se nós nos esforçassemos mais e de vera, como Paulo estava disposto, a sofrer para que Cristo fosse exaltado?

Se você chegou até aqui na leitura… minha oração é que tanto eu quanto você possamos ser como Paulo e estar dispostos a viver os anos que Deus tiver pra nós (8 ou 80) com alegria e disposição de ir até a última respiração para louvor dEle. Que possamos fazer isso quando for fácil e quando for difícil também.

Dois Papas (Netflix, 2019)

Assim que a Netflix soltou a publicidade ao ar livre deste filme, em paradas de ônibus e em ‘outdoors’, percebi a nítida intenção de ser uma peça de propaganda com alto poder de influência, pois não bastasse ter Anthony Hopkins, que dispensa apresentação, tem outro excelente ator, Jonathan Pryce (Brazil, o filme, 1985; Game of Thrones, Piratas do Caribe, 007, etc), é escrito por Anthony McCarten (A Teoria de Tudo, 2014; Bohemian Rhapsody, 2018 e O Destino de uma Nação, 2017 – todos indicados ao Oscar) e é dirigido pelo brasileiro, com forte tendência política à esquerda, Fernando Meireles (Cidade de Deus, 2002; O Jardineiro Fiel, 2005; Ensaios sobre a Cegueira, 2008 – todos filmes com forte crítica social). Então, não estamos falando sobre qualquer filme, mas de um que tem boas chances de não apenas concorrer, mas levar um OSCAR.

Por isso, ao perceber e prestar atenção àqueles anúncios, ficou evidente o desejo deles apresentarem uma polarização entre o papa conservador, dogmático, alemão, carrancudo e fechadão (Bento XVI – Joseph Aloisius Ratzinger) e o então futuro papa, mais aberto a mudanças, argentino, fã de futebol, sorridente e amigo de todos (Francisco – Jorge Mario Bergoglio). Logo, já ali na rua, eu esperava assistir a um filme muito bem atuado, em um cenário fantástico, mas com a intenção de mostrar como foi a transição entre a posição antiga, dogmática, retrógrada, fedida a conservadorismo, para o início de uma reforma profunda e promissora à Igreja Católica, tentando, assim, buscar os católicos desanimados, desigrejados e que talvez tivessem deixado a ICAR por denominações neopentecostais (na maioria) durante os governos dos últimos dois papas (João Paulo II e Bento XVI). Mas, gente, o filme não fica só nesse embate.

Em poucas palavras, o filme, para quem não assistiu, é mais ou menos assim: Bergoglio planeja ir até o Vaticano para entregar sua carta de renúncia ao Papa Bento XVI porque não se sentia confortável com a ICAR, uma vez que a igreja estava perdendo pessoas, ostentava muito em suas tradições, e, assim, ao seu ver, não era mais tão relevante aos desafios do mundo globalizado. Só que aí Bento XVI não reage bem e eles tem alguns momentos de conversa pessoal e acalorada onde se conhecem melhor e Bento XVI confessa que planejava renunciar o papado, mostrando até o momento que há a transição para o novo Papa, o próprio Bergoglio.

Uma querida amiga me indicou o perfil no Instagram de PHDelfino, que se descreve como ‘escritor, católico, conservador e de direita’, e, porque o filme fala sobre católicos, eu vejo que vale a pena reproduzir os comentários para vermos como o outro lado pensa sobre o filme, concordando e discordando – é claro.

  • …esse filme se insere em um esforço que toda mídia global tem tentado empenhar, que é o de pintar o Papa Francisco como um socialista revolucionário que veio para salvar a Igreja das garras do conservadorismo.
  • Eles chegam ao cúmulo de contar a história como se isso fosse uma realidade tão evidente que o próprio Bento XVI percebeu e, por isso, renunciou, intencionalmente a fim de que Francisco fosse eleito no seu lugar e desse início à Revolução de que a Igreja precisa.
  • Ora, essa “revolução de que a Igreja precisa” (e da qual fala o filme) é muito mais a revolução que eles querem que Francisco faça do que a revolução que Francisco realmente está disposto a fazer. Ele tem um perfil diferente do Bento, isso é inegável, e, respeitando o estilo de cada um, os dois têm capacidade de ser grandes papas. Francisco pode fazer uma revolução no sentido de sanar alguns problemas que estavam demorando demais para serem resolvidos… Como um Papa mais liberal, poderá dar um frescor à Igreja, aproximando pessoas e preparando-as para os tempos do próximo Papa, que provavelmente, voltará a ser um conservador como o Bento. 
  • Essa alternância não é má na Igreja, se ela não se tornar política como a mídia quer tornar. Mas Francisco não está dando nenhum sinal de que agirá desta forma. Portanto, esses esforços midiáticos continuam porque:
  • O marxismo, um dia, viu que não poderia destruir o Estado então atualizou sua estratégia para tentar direcionar o Estado no sentido do socialismo. Só que a Escola de Frankfurt percebeu que o Estado era uma consequência da estrutura cultural da sociedade e que era preciso primeiro direcionar essa cultura: a “superestrutura”. A instituição que forma os valores não é o Estado, mas sim a Igreja. Por isso, ela se tornou um alvo determinante para a vitória da revolução. 
  • Eles perceberam que não podiam vencer a Igreja, por isso começaram a tentar ‘esquerdizá-la’, lançando a Teologia da Libertação. Essa tentativa foi condenada pelos Papas e não pegou (tem crescido novamente nos últimos anos mas sem chance alguma de vencer a hierarquia eclesiástica e tomar o Papado). Logo, pensaram: “vamos deixar o Papa lá quieto na dele, o que ele disser que for possível de usar em favor do nosso discurso a gente mostra, tudo que ele disser e tiver um caráter mais conservador a gente esconde… e assim o povo vai atrelar as nossas ideias como “as ideias da igreja”.
  • Ou seja, eles descobriram que não precisam mais tomar a igreja, basta tomar os meios de comunicação. Eles não precisam mais transformar a igreja, basta transformar a percepção que as pessoas têm da igreja. Ao se colocarem entre a Igreja e o povo, eles filtram, distorcem, manipulam e, assim, a reputação de qualquer um se adequa àquilo que é favorável às vontades da mídia esquerdista.

Bom, depois de ler isso tudo, sabendo que nosso chefe não é o Papa, mas Jesus, o Cristo, que é nosso Salvador e Rei, e compreendendo também as demais diferenças dogmáticas que temos, achei interessante a visão desse senhor sobre a mídia montar o Papa Francisco como um herói do povo, homem necessário para mudanças à inclusão dos grupos menos favorecidos (pobres, crianças em situação de vulnerabilidade, gays, etc.) e o Bento XVI como alguém a se evitar, com reputação manchada especialmente porque ele teria tido o conhecimento de padre pedófilo e não fez nada para resolver esse caso e pelo escândalo do Banco do Vaticano. A cena do Papa Francisco meio que alterado com o Papa Bento XVI na sala das lágrimas da Capela Sistina me chamou atenção sobre isso.

Mas tem mais.

Que tipo de líder é necessário a Igreja? Um que seja muito bom de livros, com o latin na ponta da língua, dedos capazes de tocar músicas lindas e alegres ao piano, ou um outro que ande entre os pobres, que não usa os sapatos vermelhos reais, que acolhe vítimas de regimes repressores e não tá ligado nos dogmas da igreja, mas no tete a tete, no olho no olho? Ainda que essa visão oposta aqui possa ser discutida – como é acima por PHDelfino.

A igreja já tem um líder e seu nome é Jesus. Ele é o líder completo, aquele que não falha por omissão, mentira ou falta de saúde e inteligência. Não existe um ser humano capaz de liderar sozinho algo que nem ao menos é dele.

Outra coisa. O líder, seja qual for sua especialidade, grau de intelecto ou carisma, não pode mercadejar a Palavra de Deus (2 Co 2.15). É com muita tristeza que vemos notícias de púlpitos que se tornam palanques políticos ou lugares de venda de salvação e cura física e do bolso vazio por dinheiro. Também é doloroso de mais perceber que a política eclesiástica, seja qual for a denominação, muitas vezes falha em tratar o machucado antes de ser necessário/imprescindível amputar toda a perna. Nossos líderes, seja qual for a denominação cristã, precisam antes de tudo amar a Verdade, que nos é revelada na Bíblia, tendo asco a mentira e, então, fazer o que Filipe fez em Atos 8.5, isto é, anunciar Cristo sem fazer isso um bem de consumo. Deus é magnífico e nos fez diferentes para atuação em áreas diferentes. Isso significa que um pastor que é reconhecido pelo intelecto tem o seu espaço na história de Deus salvando seu povo, bem como também um pastor que é mais sociável e humilde também tem seu lugar, ambos passando qualquer que seja a dificuldade para anunciar a Cristo em tudo que Ele se revela a nós com alegria (Rm 5.3).

Gosto que o filme humaniza os dois papas. Mostra momentos de autocrítica e também as dúvidas quanto a fé, a capacidade de cuidar da igreja que receberam responsabilidade.

Sabe, tal como um pastor que sou, diariamente, eu sou obrigado a reconhecer minha incapacidade de cuidar das ovelhas confiadas a mim por Deus. As crises internas são companheiras constantes e enfadonhas de todos os líderes religiosos, pois vez ou outra é possível ter a impressão que em função de uma aparente santidade, estilo de fala, ornamentação do templo, estratégia de marketing é que o ministério é bem sucedido ou não – só que isso é um ledo, gigantesco engano.

O Senhor fala a Josué para ter coragem não é pela dificuldade de vestir os sapatos usados por Moisés e assim liderar o povo para vencer batalhas, mas porque precisava coragem para reconhecer que: 1) era um ser incapaz de sozinho vencer batalhas; 2) que precisava depender de Cristo a cada passo da sua caminhada e não apenas na força do seu intelecto, com o curriculum de quem andou com ou com o conhecimento e força de seu exército; 3) haveria de sofrer muito no caminho, mas haveria de obter vitórias pois o Senhor estava ao seu lado.

Padres, tanto quanto pastores, precisam reconhecer quem são diante de Deus. Há uma necessidade urgente de líderes humildes, não dado a mentiras, a barra de saias, as barras de ouros e as cacháças de são joão da barra! Há uma urgente necessidade de líderes firmes na Palavra e não em si mesmos. Não somos nós que lideramos a igreja, mas, sim, o Cristo!

 

 

FUN FACTS1

  1. Ratzinger é realmente fã de Fanta e toca piano.
  2. No primeiro conclave o Papa Francisco relutou muito mais que no filme para não ser escolhido Papa.
  3. Os papas se encontraram no Castel Gandolfo apenas em 2013, após a renúncia de Ratzinger.
  4. A partida de futebol é algo da mente de Anthony McCarten que viu uma foto dos dois assistindo TV. Logo, a presidente Dilma estava de gaiata no filme.
  5. O Papa Francisco realmente rejeitou o uso dos sapatos vermelhos.
  6. Ele também não terminou um noivado. A história com a Amalia Damonte é de um namorico de infância (quando tinham 12 anos) e Bergoglio disso que se a relação não terminasse em casamento, ele se tornaria padre.

 

1. https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/12/20/dois-papas-o-que-o-filme-da-netflix-tem-de-verdade-e-ficcao.htm 

História de um casamento (Netflix, 2019)

História de um ou de muitos casamentos? É realmente possível um casamento terminar e a família permanecer unida? Qual é a importância de um ‘olha me desculpa, eu errei feio’ sobre o triunfo do ego do vencedor? Por que História de um casamento (HDUC) é um filme de doer o coração?

Eu considero este filme um dos melhores do ano e explico o porquê.

Diretor. Embora os cursos de tradução pelo mundo formem excelentes profissionais, existe um certo consenso que os melhores mesmo são aqueles tradutores que além de conhecimento das técnicas de tradução também já estudaram e/ou trabalharam em outra área, uma vez que não conhecem os termos apenas de dicionário, mas de tê-los vividos. Ou seja, os melhores tradutores de poesia normalmente são poetas, os melhores de textos legais, advogados, os melhores de arquitetura, os arquitetos, etc.

Noah Baumbach é o diretor por trás dessa obra e me parece muito com o exemplo que dei acima, ou seja, ele fez bem este filme porque sabe de prática. Baumbach foi indicado ao Oscar em 2005 por escrever e dirigir A Lula e a Baleia (ALEAB), que é mais ou menos autobiográfico, pois ele reconta um pouco do que passou no divórcio dos seus pais, que tinham muita vivência com a arte, a sétima arte, pois são críticos de cinema. Então com HDUC ele não conta algo novo para ele, mas algo que certamente sabe de ouvir e de viver. Creio que o realismo vem muito dessa experiência dele.

Diálogos. Eu acho algo muito interessante o filme ter dois protagonistas, apesar de estar mais focado no Charlie (Adam Driver, do último Star Wars). O diálogo introdutório é algo simplesmente poético e que se você perder também perde a riqueza que é o final do filme. Em ALEAB, Baumbach mostra a história a partir do filho mais velho (Jesse Einsenberg, de Zumbilândia, Batman vs Superman), mas em HDUC ele olha o casal como uma unidade. O diálogo da discussão deles, quando o Charlie soca a parede, é de fazer chorar ou ficar com os olhos marejados por uns 30 minutos bem forte.

Realismo. Concordo com o Rodrigo do QuadroCine que “o realismo das atuações se encaixa perfeitamente na forma pouco realista da mise-en-scène (tudo aquilo que aparece no enquadramento da cena) de Baumbach”, porque de fato “é natural que busquemos elementos reais em universos não-reais”.

Sabe, o filme foge do óbvio. Não tem a intenção de te dar um final feliz de novela mexicana, mas de explorar o realismo fatalista de alguns relacionamentos que por mais possível e claro que seja uma reconciliação, ela não chega lá. Desde a explicação de quão caro é separar, até as dificuldades para deslocamento físico entre cidades, trabalho, escola, socialização e até o último cadarço do filme fica uma tentativa muito sincera de tentar retratar a vida sem o imaginário que pena (hoje lápis, caneta ou teclado) propiciam ao escritor de tentar matar o real. Há uma apreciação clara pela demonstração que relacionamentos, não importa quão fortes sejam, são complicados.

Bíblia. Não tem Bíblia no filme, mas ao assistir não pude olhar sem os óculos que me guio por esta vida. Ontem, na minha leitura devocional cai em 1 Pedro 3 quando temos ensinamentos as esposas e maridos. Fica tranquilo que não vou cair em debate complicado hoje, vou apenas ficar com o versículo 7:

Maridos, vocês, igualmente, vivam a vida comum do lar com discernimento, dando honra à esposa, por ser a parte mais frágil e por ser coerdeira da mesma graça da vida. Agindo assim, as orações de vocês não serão interrompidas.

Esse conselho é destinado aos homens, mas plenamente útil a ambos os lados. Viver com discernimento, isto é, com capacidade de avaliar, escolher, julgar, apreciar é essencial tanto a homens quanto a mulheres e isso falta e muito nos dois personagens, especialmente no Charlie.

Charlie é aquele que adultera com uma empregada da sua companhia de teatro por julgar não ter a atenção quando queria, ele falha em avaliar as reais necessidades de sua esposa de estar perto de seus parentes e buscar afirmação como profissional e submete seu filho a uma rotina pesada apenas para que seu desejo fosse saciado quando vão os dois pegar doce de Halloween. A Nicole (Scarlett Johansson) também adultera e erra na escolha de um advogado quando tinham previamente acordado em realizar a separação de forma amigável. Existem muitos erros de avaliação neste filme.

E aqui chamo você para a nossa realidade, pois pelo pecado de Adão também estamos susceptíveis a erros de julgamento, erros de apreciação da vida comum do lar.

O comum na nossa sociedade não tem sido suficiente. Infelizmente vejo muitos casamentos onde homens e mulheres não se contentam com a vida comum. Homens normalmente querem mais aventuras sexuais, buscando saciar seus desejos em outras bocas ou pela tela do computador e celular. Muitos vivem como se fossem meninos e não se atinam para a necessidade de cuidar e cultivar a família que tem, vivendo apenas em video games e outros brinquedos mais caros que tem. As mulheres, por sua vez, também não ficam atrás dos homens e desejam muitas vezes o mesmo nível de liberdade que só solteiros tem.

Hoje, mais que em qualquer outro momento da história, ser revolucionário, contra cultural é ter desejo apenas pelo conjuge, honrar essa pessoa com seus bens, tempo e sentimentos, cuidar dos filhos e viver a vida comum do lar, pagando os boletos, ensinando a Palavra de Deus em casa todos os dias, cultuando o Senhor em Igreja até que Cristo venha. É viver de maneira simples, sem querer ser o protagonista da história, mas fazer bem o que veio fazer na terra.

O filme me doeu o coração porque era evidente que existia um puro sentimento entre os dois de amor, mas as decisões erradas, o não perdoar, o não oferecer perdão, levaram os dois para algo ainda pior. Quantos casamentos são desfeitos por egoismo como aqui? Tenho visto que batalhas assim não levam a nada, pois ambos os lados perdem muito mais que ganham.

Tive vontade de fechar a janela do filme umas 10 vezes, mas fico feliz em não ter feito. Faz bem pensar sobre a importância do casamento e como um casamento sem Deus é infeliz.

Termino com a música infantil (mas muito sábia): Se na família está Jesus é feliz o lar, é feliz o lar, é feliz o lar. Se na família está Jesus é feliz o lar, é feliz o lar! Se com papai e com a mamãe está Jesus é feliz o lar, é feliz o lar!