Mas, e se… ?

E se tivesse escolhido o combo com dois hamburgers, alface, queijo, molho especial, cebola, picles, num pão com gergelim ao invés daquela pizza gigante de calabresa que me deixou meio enjoado? E se tivesse estudado mais para aquela prova que não passei? Mas… e se tivesse falado mais dos meus sentimentos enquanto ela/ele ainda estava vivo? Mas… e se tivesse deixado o celular de lado pra jogar mais bola com meu filho?

As vezes até que é possível voltar atrás em um erro com uma abordagem diferente. Se ainda existe ar em seus pulmões, e um estômago funcionando razoavelmente bem, ainda é possível escolher aquela salada marota ao invés do big mac ou da pizza gigante para evitar indigestão na próxima vez. No caso da prova, se de concurso, aceite que não passou e aí é só estudar mais para o próximo, e se de escola ou faculdade, então cabe a você estudar mais para não reprovar e melhorar a média, se ainda existir tempo.

Só que para outros erros não existe segunda chance. Sejamos sinceros com a verdade: palavras ditas ao vento, sobre um caixão, ou um gol feito após o apito de final de jogo, não servem ao objetivo pretendido. Você até pode comprar um lustre novo, mas se o que quebrou for de valor sentimental para o dono, nem se você comprasse um zilhão dos mais caros. Você até pode largar o celular agora e decidir jogar futebol de botão com seu filho, mas o tempo que passou já era – inês é morta, o leite foi derramado, cê fini. É dali em diante e aceitando as perdas que o seu erro te garantiu.

Só que tem outra coisa que não dá pra remediar após a morte – a vida eterna. Eu não tô dizendo que você garante a vida eterna na graciosa e amável presença de Deus por seus próprios atos – você não consegue isso, mesmo porque não cabe a você. Foi Cristo que suportou a cruz para que tivéssemos vida. O mérito é totalmente dele, mas, enquanto fôlego de vida tivermos aqui nesta terra, nos cabe confessar Cristo como nosso Salvador, entender piamente que somente através dele, como nosso mediador, temos acesso ao Pai e viver o que nos resta de vida por Ele, para Ele, e, finalmetne, por consequência, não sermos lançados no lago de fogo pela eternidade.

Hoje é tão bom quanto amanhã. Aliás, hoje pode ser o seu último dia nesta terra. Acredite ou não, tão logo após eu escrever este post ou você ler ele a morte pode vir de forma poética ou não, trágica ou cômica. Agora é o melhor momento momento porque não existe um ‘e se’ que seja possível de correção depois. Depois, no inferno, vai ser um ‘e se’ impossível para todo o sempre!

Oro ao Senhor, enquanto escrevo, que o Espírito Santo toque seu coração e você não faça essa confissão apenas por temor, mas o faça também por amor. Nessa época de coaches que dizem que você é excelente e pode fazer tudo e ter tudo que quiser, reconheça que sem Cristo você não passa de um vaso frágil e inútil. Só temos significado com Cristo em nossa vida.

Quem manda aqui?¹

Um dos principais motivos para brigas no lar, tirando o time de futebol que perdeu, o tempo excessivo de alguém em casa com computador/celular/video game, as finanças, o sexo, a reforma da casa ou se o almoço de mais cedo estava bom ou não, tem a ver com quem estabelece os limites, pois saber quem manda responde como os limites são colocados e com qual finalidade são servidos aos comandados.

Assim, para fins didáticos, proponho aqui 3 princípais líderes e seus efeitos mais conhecidos na saúde de uma casa, na sua saúde, na sanidade de um casal e de seus filhos.

 

Dinheiro – quando a moeda é o meio de troca, a forma que rege os relacionamentos de um lar, infelizmente, percebemos que filhos amam seus pais e até um conjuge ama o outro num relacionamento behaviorista, isto é, baseado em estímulos para obtenção de reações e ‘em detrimento de introspecção e da consciência’²

É mais ou menos assim: o filho obedece o pai e a mãe, tira boas notas, se comporta dentro dos padrões aceitáveis na sociedade e dentro do lar não briga com o irmão e come as suas lentilhas sem chorar porque espera uma recompensa, exemplo: mais tempo no vídeo game, um presente mais caro no aniversário, um carro quando passar no vestibular, um celular, uma viagem de final de ano para Disney, etc.

Já entre as partes de um casal, entre o homem e a mulher, o dinheiro fala mais forte no sentido que ter dinheiro traz segurança, afinal estar com o outro, mesmo que sem um sentimento arrebatador, respeito ou cumplicidade, vale a pena, na cabeça de quem pensa assim, porque ninguém quer passar o dia inteiro na fila de um hospital público e não ser atendido, porque não ter que pagar aluguel todo mês e andar com carro com as rodas novas é ótimo e ter onde comer fora de vez em quando e ganhar uma roupa nova não é nada mal. Mas e quando o dinheiro falta?

Quando falta o dinero é que a obediência, o respeito e a fidelidade vão pro saco ou são colocados em real teste. E, olha, basta uma crise econômica um pouco mais séria, a perda de um emprego, daquele que sustentava financeiramente a casa ou um gasto mais sério com saúde para isso ficar evidente. Quando servimos ao dinheiro e aos bens que este pode comprar, somos liderados por um ideal frágil, temporário e que mesmo podendo fazer bem, tem forte potencial de escravizar o indivíduo a uma corrida insana por mais dinheiro, que, por sua vez, leva a mais trabalho, talvez a atos de corrupção e outros atos imorais também. E o  que quero te dizer aqui é simples (apesar das muitas palavras). Pais, se vocês vivem em função do trabalho para trazer dinheiro para casa e fazer os de casa lhe obedecerem e gostarem de você, você está perdido numa corrida sem fim e sem medalha. Não vá por aí.

 

Filhos – sim, eles são lindos, inteligentes, cheirosos, divertidos e outros tantos adjetivos positivos que pudermos dar, mas, olha, eles não podem ocupar a posição central da casa. Todo lar cujos os filhos são o centro, é um lar onde eles podem vir a acreditar que tem a permissão para se comportarem como se todos os outros ali (pais, irmãos, avós, animais, etc) existissem por causa deles, isto é, com a finalidade de agradá-los – e tá aí uma ótima receita para adultos mimados, incapazes de viverem em sociedade, insubmissos as autoridades instituídas sobre eles e, principalmente, insubmissos ao Senhor Jesus.

Mas como eles chegam ao poder? Alguns ocupam essa posição porque os pais sentem culpa. Por exemplo, pais divorciados, que estão em segundo ou terceiro casamento, que são viúvos, casados com ao menos um dos pais ausentes por conta de trabalho, vícios, depressão ou porque se sentem incapazes ante ao exemplo de seus próprios pais ou amigos que, aparentemente, são bons exemplos de pais, dão aos filhos o que eles querem, vivendo em função das necessidades materiais destes e relevando suas grosserias porque compreendem a ausência/negligência/incapacidade e tentam equilibrar a balança. Alguns ocupam essa posição porque os pais amam além da conta. Aqui tá aquele amor que sufoca, que acha que o filho é feito papel de seda e com qualquer sopro pode rasgar. Alguns pais anulam suas necessidades pessoais (higiene, entretenimento, conhecimento, amor, sexo, trabalho, vida espiritual, etc) porque pensam que sem eles os filhos serão incapazes de viver neste mundo. E aí mora um grande perigo. Casais onde ao menos um dos conjuges perde a noite e o dia cuidando dos filhos e esquece o outro conjuge. Já vi casamentos desmoronarem aqui. 

 

Deus – quando Deus é o centro da união de um homem e uma mulher, e por consequência, deles com seus filhos, todos se encontram comprometidos em agradar e servir a Ele e não a si mesmos. Os desejos de Deus, que nos são revelados na Escritura, estão acima dos desejos individuais de cada um e espera-se que cada um sacrifique seus prazeres pessoais se assim for da vontade de Deus para glória dEle e benefício, secundário, nosso. E sabe de uma? Isso muda tudo. Pais e filhos que servem ao Senhor e servem um ao outro em amor maduro, ao invés de quererem serem servidos, ao invés de quererem receber honra, ao invés de quererem ser objetos de amor, entendem que limites não são produtos de mentes doentias, dominadores e autoritárias, mas instituídas por Deus para conter nosso ânimo pecaminoso e autodestrutivo, um gesto de amor. Quando Deus é o centro as brigas por poucos centavos e por discussões diminuem. A violência física e verbal passa a ser história. Aí acontece verdadeira comunicação que mata a ira pecaminosa e produz o compartilhar saudável. Só Deus causa isso na vida de um ser como eu e você.

Termino com uma memória do dia que fiz as fotos para o convite de formatura do seminário em uma fazenda que cuidava de ovelhas. Elas viviam em uma área cercada por todos os lados e não em um campo aberto como as vezes se tem a imagem mental delas vivendo. O pastor tinha o rebanho ao alcance dos seus olhos, mas não se ocupava de estar entre elas o dia inteiro porque sabia que os limites que tinha imposto serviam para resguardar elas delas mesmas e de qualquer outro animal que tentasse atacá-las. Além disso, elas estavam reunidas e se moviam de um lugar para outro em harmonia ao seguirem o pastor, servindo aos propósitos de proteção, conforto e comunhão umas das outras.

E aí, faltou algum outro tipo de líder que não mencionei aqui? Quem manda aí na sua casa?

 

NOTAS

¹ Feito especialmente para pais de filhos muito pequenos, pequenos, médios ou não, já grandões mas que moram em casa, ainda.

² “behaviorismo”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/behaviorismo [consultado em 01-11-2019]