Diga NÃO ao ativismo cristão

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Li em um dicionário que ativismo pode ser definido de duas formas. Na primeira, este substantivo masculino existe para definir uma ‘atitude moral que insiste mais nas necessidades da vida e da ação que nos princípios teóricos’. Já na segunda definição o dicionário aponta que ativismo seria como uma propaganda ativa do serviço de uma doutrina ou ideologia’.1

Mas, sabe de uma? Não fiquei satisfeito. Essas definições não abraçam com força tudo que está relacionado ao ativismo cristão dos dias atuais versus o que deveria ser uma vida ativamente frutífera, santa e saudável diante de Deus. Então, fiz o seguinte. Quebrei a palavra nesta formulinha para estudarmos aqui.

Ativismo = ativo + -ismo

Ativo, como adjetivo, define algo que exerce ação, que é dinâmico, ou seja, que não é passivo, mas que exerce influência, operando com rapidez e, em relação ao comércio, meio que por curiosidade, ativo é algo que se é credor (guarde esse pensamento). Já o sufixo -ismo, por sua vez, tem a função de formar substantivos abstratos como, por exemplo, alcoolismo, liberalismo, darwinismo, cristianismo, e por aí vai tentando dar forma a qualquer doutrina, movimento ou teoria. 

Assim, após ter investigado esta palavra e também considerar o que o ativismo cristão trás como malefício a vida do crente, apresento aqui uma definição deste termo que você pode questionar caso não concorde ou ache exagerada – use sem moderação o espaço de comentários deste post.

Ativismo cristão é um movimento onde indivíduos que se afirmam pelo nome de Cristo, seu Salvador, estão em constante atividade em programações/ensaios/eventos/atividades da igreja que congregam ou que servem como ministros do Evangelho ou, ainda, em ministérios paraeclesiásticos, sem que haja: 1. divisão saudável do tempo para se viver Cristo em outros ambientes/áreas da vida, exemplo: em casa, com o cônjuge e filhos, no trabalho, no ambiente acadêmico, através de alimentação saudável, exercícios físicos, ócio e apreciação de arte e da criação, etc; 2. raciocínio crítico se as atividades executadas são eficazes no objetivo fundamental do cristão, isto é, se realmente glorificam o Senhor, levando seu nome a ser conhecido entre os que precisam ouvir para crer, e nos levam a ter alegria nEle e não em nós, não fazendo da igreja apenas um clube social onde temos comunhão superficial e dispendiosa – financeiramente e de mão de obra que já é difícil de encontrar; 3. crítica pessoal se fazem isso simplesmente para ocupar o tempo, pois há um desejo de fuga dos problemas pessoais e não como motivo de reconhecimento/gratidão pelo maravilhoso e imerecido amor de Deus em nos salvar da perdição eterna.

Uma igreja com agenda cheia de atividades não é, necessariamente, uma igreja que cumpre o Ide. 

Se considerarmos que o objetivo da igreja visível é esforçar-se diligentemente em fazer discípulos de Cristo2 por toda a Terra (Mt 28.19), assumindo, assim, todos os sofrimentos e perseguições contíguos à esta vida a fim de ensinar os santos a guardar tudo o que Cristo nos ordena (Mt. 28.20), será que temos sido fiéis ao chamado de exortar com toda paciência e doutrina (2 Tm 4.2) ou na balança mais pesa o lado das atividades de comunhão que muitas vezes apenas tem o sentido, ainda que inconsciente, de nos fazer bem? 

Quanto sua igreja tem gasto no apoio aos missionários que estão nas cidades, aldeias deste país ou em outros países versus o quanto ela tem gasto em atividades de comunhão? 

Quanto tempo temos gasto em reuniões de oração e de estudo bíblico, de discipulado um a um, de visitação aos enfermos, de atendimento às viúvas, orfãos e aqueles que pensam em suicídio, pois estão imersos em depressão e problemas cruéis, versus o tempo que temos gasto em decorar jantares temáticos de acampamento, de encher balões e de nos prepararmos para eventos caros e com pouco retorno efetivo ao Reino de Deus?

Veja bem, não é que planejar e decorar sejam errados, mas é que tempo sobre esta Terra é um presente de Deus que é caro e é finito e, também, é urgente falar a este mundo caído que Cristo veio para salvar todo aquele que nEle crer. Logo, a história aqui é sermos mais Maria que Marta (Lc 10.38-42), pois é mais importante ouvir o Senhor que nos agitarmos de um lado para outro.

Costumo dizer a alguns irmãos que a igreja, no que se refere a área das crianças, como exemplo, não existe para ser a fonte principal de ensino bíblico destes meninos e meninas. Falo a estes pais que pensem na igreja, em primeiro lugar, como uma loja de ferramentas, pois a responsabilidade de ensinar Cristo é primária deles e estamos ali para dar o que eles precisam para fazer isso com seus filhos. Mas como vou viver Cristo com meus filhos se nunca tenho tempo com eles? 

As crianças de hoje em dia são como pequenos homens e mulheres de negócio. Se não estão na escola, e às vezes estão em tempo integral, estão no Inglês, no Espanhol, na aula de computação, na atividade física, em muitas consultas médicas e só os encontramos em casa, durante a semana, por uma ou duas horas antes de irem dormir. Sem falar da nossa própria agenda cheia, veja que nos fins de semana eles quase sempre estão absortos nos ensaios semanais do coral infantil, nas reuniões departamentais e de atividades de lazer, nas festas dos amigos, nos acampamentos em feriados, nos ensaios para apresentações especiais, nas casas dos avós e pouco tempo também passamos com eles durante os cultos.

É claro que ainda sobra algum tempo, eu sei. Mas será que é tempo de qualidade? Tempo para modelar Cristo na vida deles?

A igreja precisa dar aos seus membros a possibilidade de viverem Cristo, de testemunharem Ele, neste mundo caído. Nós somos sal e luz neste mundo (Mt 5.13-14) e não podemos estar como escondidos dele, só que muitas vezes o número exagerado de atividades na igreja nos rouba a oportunidade de fazer isso. Sabe, eu e você precisamos gastar tempo e viver Cristo com os nossos familiares que não o conhecem. Nós precisamos viver na cidade, as necessidades da cidade, e mostrar o que nosso Deus fez conosco, pois antes estávamos mortos e agora temos vida. 

Gosto de dizer o seguinte: precisamos fazer prática a nossa teologia. 

Já reparou o tanto de crente bom, aquele que tem muita disposição ainda que não tenha muitos talentos, e que fica exausto no meio do caminho? Às vezes não é nem pela falta de apoio, mas pelo exagero de atividades, a falta de equilíbrio, uma compreensão, por vezes, equivocada da Palavra.

Ser crente não é dizer sim pra tudo que te pedem na igreja. Precisamos dizer não para tudo que tenta roubar o lugar de Deus, que é o principal, de nossas vidas. Se atividades ficarão por serem feitas na igreja… paciência!

Sábado fui a um encontro de casais na igreja onde estou com minha família e ouvi de um dos líderes que haviam optado pela redução de encontros para privilegiarem a qualidade bem como a possibilidade dos casais terem mais tempo em casa e poderem estar em comunhão ‘individual’ com outros casais. Achei aquilo belo!

Precisamos dar um tempo em tanto ativismo e pensar a melhor forma possível de adorar a Deus com nossos talentos, recursos financeiros e tempo.   

 

  1. https://dicionario.priberam.org/ativismo
  2. e não meus ou seus discípulos

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4 comentários sobre “Diga NÃO ao ativismo cristão

  1. Excelente conteúdo. De forma surpreendente e divina veio a corroborar com o que estou vivendo atualmente.

    Deus abençoe! Disseminar o evangelho é o foco.

  2. Concordo. A clareza do comentário com fartas explicações. Aprendi com o brilhante geógrafo e intelectual brasileiro Milton Santos, que “todo ismo degenera a ideia principal”. O Ativismo potencializa os ismos. Parabéns.

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